“(...) Se
quisermos passar sem problemas por portas abertas, é bom não esquecer que elas
têm ombreiras sólidas; este princípio, segundo o qual o velho professor sempre
tinha vivido, mais não é do que uma exigência do sentido de realidade. Ora, se
existe um sentido de realidade – e ninguém duvidará de que ele tem direitos à
existência -, então também tem de haver qualquer coisa a que possamos chamar o
sentido de possibilidade.
Aquele que o possui, não diz, por exemplo: isto ou
aquilo aconteceu, vai acontecer, tem de acontecer aqui, mas inventará; isto ou
aquilo poderia, deveria ter acontecido aqui. E quando lhe dizem que uma coisa é
como é, ele pensa: provavelmente, também poderia ser diferente. Assim, poderia
definir-se o sentido de possibilidade como aquela capacidade de pensar tudo
aquilo que também poderia ser e de não dar mais importância àquilo que é do que
àquilo que não é. Como se vê, as consequências desta disposição criadora podem
ser notáveis; infelizmente, não é raro que façam aparecer como falso aquilo que
as pessoas admiram e como lícito aquilo que elas proíbem, ou então as duas
coisas como sendo indiferentes. Esses homens do possível vivem, como se costuma
dizer, numa trama mais subtil, numa teia de névoa, fantasia, sonhos e
conjuntivos; se uma criança mostra tendências destas, acaba-se firmemente com
elas, e diz-se-lhe que tais pessoas são visionários, sonhadores, fracos, gente
que tudo julga saber melhor e em tudo põe defeito. Quando se quer elogiar estes
loucos, chama-se-lhes também idealistas, mas é claro que com isso só se alude à
sua natureza, débil, incapaz de compreender a realidade, ou que a evita por
melancolia, uma natureza na qual a falta do sentido de realidade é um
verdadeiro defeito. (...)”
«Um
romance radicalmente experimental escrito numa linguagem clássica, traduzido
pela primeira vez em português numa versão não amputada.»
(Luís
Miguel Queirós, Público)
«Esta
gigantesca obra inconcluída de Musil pode ser vista como o primeiro grande
romance do nosso século XXI.»
(Enrique
Vila-Matas, Público)
«O Homem
Sem Qualidades" instala-nos nessa outra forma de percorrer o tempo que,
eventualmente, nos pode fazer esquecer a morte.»
(Gonçalo
M. Tavares, Público)