
“(…) A entrega do Prémio D. Dinis esteve agendada para
a próxima sexta-feira, numa cerimónia com a presença do primeiro-ministro,
Pedro Passos Coelho.
“Na realidade eu não poderia, com coerência, ficar bem
comigo mesma, receber um prémio literário que me honra tanto, cujo júri é
formado por poetas, os meus pares mais próximos - pois sou sobretudo uma
poetisa, e que me honra imenso -, ir receber esse prémio das mãos de uma pessoa
que está empenhada em destruir o nosso país”, explicou Maria Teresa Horta à
Lusa.
“Sempre fui uma mulher coerente; as minhas ideias e aquilo que eu faço
têm uma coerência”, salientou a escritora que acrescentou: “Sou uma mulher de
esquerda, sempre fui, sempre lutei pela liberdade e pelos direitos dos
trabalhadores”.
Para Maria Teresa Horta, “o primeiro-ministro está determinado
a destruir tudo aquilo que conquistámos com o 25 de Abril [de 1974] e as
grandes vítimas têm sido até agora os trabalhadores, os assalariados, a juventude
que ele manda emigrar calmamente, como se isso fosse natural”.
A autora
afirmou que “o país está a entrar em níveis de pobreza quase idênticos aos das
décadas de 1940 e 1950 e, na realidade, é ele [Passos Coelho], e o seu Governo,
os grandes mentores e executores de tudo isto”.
“Não recuso o prémio que me
enche de orgulho e satisfação, recuso recebê-lo das mãos do primeiro-ministro”,
deixou claro Maria Teresa Horta.
A escritora disse que já informou a Fundação
Casa de Mateus da sua decisão, assim como a sua editora e falou com cada um dos
membros do júri.
A premiada salientou ainda a “satisfação” que lhe deu ter
sido distinguida “por um júri que representa três gerações de poetas: o Vasco
Graça Moura que é da minha [geração], o Nuno Júdice, que é da seguinte, e o
Fernando Pinto do Amaral, que é a mais nova”.
No sítio da Fundação Casa de
Mateus, na Internet, é afirmado que “a sessão solene de entrega do Prémio será
agendada brevemente”.
O Prémio Literário D. Dinis, instituído pela Fundação da
Casa de Mateus, foi atribuído por unanimidade à escritora, pela obra “As luzes
de Leonor. A marquesa de Alorna, uma sedutora de anjos, poetas e heróis”,
editado pelas Publicações D. Quixote.
Instituído em 1980 pela Fundação Casa de
Mateus, em Vila Real, o galardão é atribuído a uma obra literária - de poesia,
ensaio ou ficção - publicada no ano anterior ao da atribuição do prémio.
“As
Luzes de Leonor”, obra editada em 2011, é um romance sobre a vida da marquesa
de Alorna, Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre (1750-1839), neta
dos marqueses de Távora, uma mulher que se destacou na história literária e
política de Portugal num período denominado como “o século das luzes”.
D.ª
Leonor de Lorena e Lencastre é avó em quinto grau de Maria Teresa Horta, nascida
em 1937, em Lisboa.
Maria Teresa Horta estudou na Faculdade de Letras de
Lisboa, foi jornalista e activista do Movimento Feminista de Portugal, com
Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, com quem escreveu o livro “Novas
Cartas Portuguesas”.
“Amor Habitado” (1963), “Ana” (1974) e “O Destino” (1997)
contam-se entre mais de duas dezenas de obras publicadas da escritora. (…)”
(In
Público)