"Face às agressões do mundo, o corpo protege-se. Um bacilo activa
as suas defesas; um aguaceiro eriça os pêlos dos braços, nuca e pernas; um
alimento envenenado relaxa os esfíncteres. Mas, e o horror? Como reage o corpo
de um homem face à presença do horror? Grita, sim. E faz com que o coração
bombeie mais sangue, sim. Ou, pelo contrário, paralisa os músculos para não ser
agredido. (...) Mas pode um corpo demitir-se da realidade? Pode um corpo face à
agressão do mundo, face à fealdade do mundo, face ao horror do mundo,
subtrair-se às suas funções, recusar-se a continuar a ser corpo, suspender as
suas razões, abdicar de ser o que é, isto é, abdicar de ser uma máquina
sensível? Pode um corpo dizer: «Basta, não quero ir mais longe, isto é
demasiado para mim»? Pode um corpo esquecer-se de si próprio?"
TJJ