sábado, março 30, 2019

Leituras do momento...



"No fim do primeiro volume, a abertura secreta que conduz à câmara de pedra na floresta afigura-se um nadinha diferente, enquanto o artista, obrigado a pintar as famílias dos alemães nazis, dá mostras de evidente transtorno. E agora, pergunta o leitor? Pois bem, neste segundo volume, as personagens estreitam laços, mergulhando de cabeça na insondável trama engendrada por Murakami, e as Metáforas Duplas pedem meças às Ideias. Do alto (leia-se, superioridade) dos seus setenta e pouco centímetros, o Comendador faz alarde da proverbial sabedoria e prossegue com as suas diatribes. 
O pintor e narrador da história, que gosta de preparar uma boa refeição caseira, mas que, em matéria de pensamento abstrato e matemático, é um zero à esquerda, prefere não fazer como os golfinhos (que têm a capacidade de pôr a dormir a metade esquerda ou a direita do cérebro)... e afoga as mágoas na cozinha e num copo de puro malte escocês. Ah, é verdade, o sino evapora-se e deixa de tocar às duas da matina. E ao narrador só lhe resta responder ao chamamento do poço, que é como quem diz, da câmara de pedra. O mistério adensa-se. 
À medida que trabalha afanosamente no retrato de Marie Akikawa, dando mostras de ter reencontrado finalmente a sua arte, o pintor recorda ao pormenor a irmã que morreu aos doze anos. Confrontado com o súbito desaparecimento de Marie, parece disposto a tudo para salvar a rapariguinha de treze anos: lutar contra javalis e vespas, os atacantes mais perigosos por aquelas bandas... e cavalos de Troia.
Sucedem-se episódios mais ou menos obscuros em que se cruzam memórias de uma Viena ocupada pelos nazis e do Massacre de Nanquim. A Noite de Cristal e a anexação da Áustria por Hitler. O suicídio do irmão de Tomohiko Amada, pianista que tocava primorosamente Chopin e Debussy, envolvido na resistência antinazi.

Poderá a História contribuir na luta contra a perda de memória? 
Atacado pela demência, o velho mestre à casa na montanha torna. 
A nossa alma volta sempre ao lugar onde mora o coração?

CRÍTICAS DE IMPRENSA
«Uma história viciante e perturbadora em torno da solidão, o amor, a arte e o mal, com uma homenagem a O Grande Gatsby.»
ABC"

(in wook.pt) 

sexta-feira, março 29, 2019

quinta-feira, março 07, 2019

Leituras do momento...





Da 'Trilogia do Adeus' - João Anzanello Carrascoza
"(...) Como o título traz, o narrador desta história, um homem de cinquenta e tantos anos, escreve em um caderno anotações de vida para sua filha recém-nascida, Beatriz. Temeroso de que não acompanhará a maturidade da filha, uma vez que a diferença de idade é muito grande, o homem se põe a narrar a história da família entremeando por impressões filosóficas e poéticas sobre a trajetória de uma vida. A intenção do pai, porém, não é mostrar uma verdade, mas sim a delicadeza - "e eu só sei, Bia, que, em breve, não estaremos mais aqui, e, enquanto estivermos, eu quero, humildemente, te ensinar umas artes que aprendi, colher a miudeza de cada instante, como se colhe o arroz nos campos, cozinhá-la em fogo brando, e, depois, fazer com ela um banquete". Mas mesmo essas palavras, que compõem pequenos trechos escritos ao longo do primeiro ano de vida da criança, não são suficientes para satisfazer o pai - "eu ia te contar o segredo do universo como quem sussurra uma canção de ninar, mas eu não posso, filha, eu só posso te garantir, agora que chegaste, a certeza da despedida". No texto deste "caderno", o leitor pode acompanhar também a inquietação do pai, ao longo de um ano, pela saúde da mãe de Bia, que vive doente e requer cuidados tanto quanto a criança. O leitor irá reparar que o texto diagramado apresenta espaços em branco ao estilo de Dos Passos - além de expressarem os vazios que a ausência já ocupa, são hesitações deste pai ao tentar escrever a educação sentimental para a filha. (...)"
(in 'livrariacultura.com.br')