quinta-feira, outubro 17, 2019

Leituras do momento...


"(...) SINOPSE
Berta casou com Tomás pensando que o conhecia desde sempre mas, na realidade, não sabia nada verdadeiramente importante sobre ele. Tomás escondia-lhe algo que não podia partilhar com ninguém, nem mesmo com ela. Berta Isla é a história de um homem que quer intervir na História, acabando desterrado do mundo. 
É a história de uma mulher que espera por uma vida completa e, nessa espera, se transforma. É sobretudo uma história da fragilidade e tenacidade de uma relação condenada ao segredo, ao fingimento, ao desencontro; uma história de amor em que lealdade e ressentimento se entrelaçam.

CRÍTICAS DE IMPRENSA
«Um extraordinário narrador, um dos grandes, no sentido mais absoluto. Berta Isla é uma obra-prima. Marías é um mestre na arte de misturar quotidiano e paixão, mistério e banalidade, segredo e insinuação. Um dos seus grandes temas é o casamento, território em que se encontram e entrecruzam o amor e o desamor, a proximidade e a ausência, o segredo e a entrega.»
Claudio Magris, El Mundo
«Um romance maravilhoso. [...] Berta Isla recorda-nos por que razão a ficção, nas mãos dos seus melhores artesãos, continua a ser a única forma de nos conhecermos cabalmente.»
Juan Gabriel Vásquez, Babelia, El País
«Marías reinventou de forma extraordinária a sua própria obra, alcançando uma precisão, uma emoção, um mistério que raramente se encontram na literatura dos seus contemporâneos. Um romance soberbo.»
Fernando R. Lafuente, ABC Cultural
«Marías construiu uma obra-prima.»
José María Pozuelo Yvancos, ABC Cultural
«Penso que Berta Isla é um dos melhores - talvez o melhor - romances de Marías. [...] Admiro a sua capacidade para sondar os mais recônditos recantos da alma humana.»
Julia Navarro, ABC Cultural
«Berta Isla é um dos romances mais complexos e atrevidos romances do autor e, sem dúvida, o mais inquietante e desolado.»
José-Carlos Mainer, Babelia, El País
«A autenticidade, aliada ao talento narrativo, é uma das grandes virtudes de Marías. Berta Isla é disso um exemplo magnífico.»
J. A. Masoliver Ródenas, La Vanguardia
«O que cabe em Berta Isla somos nós. Aquilo que nos move e que nos dói. O que não sabemos, mas suspeitamos.»
Antonio Lucas, El Mundo
«Javier Marías criou um romance excepcional. Instalado numa altíssima categoria de qualidade literária, o talento do escritor não esmorece nem se conforma com os caminhos já explorados.»
Domingo Ródenas, El Periódico (...)"

(in wook) 

quinta-feira, outubro 03, 2019

Leituras do momento...






“(...) As melhores crónicas de José Tolentino Mendonça estão nas bancas, num livro com mais de 200 páginas. O volume, editado originalmente em 2015, regressou com o Expresso, numa altura de celebração marcada pelo anúncio da sua nomeação como cardeal— cuja cerimónia de consistório está marcada para 5 de outubro no Vaticano. (...)”
(in Expresso.pt)


“(...) Sublinhados: 
Abraço – “Um abraço é uma hipótese de equilíbrio que a hospitalidade dos corpos é chamada a inventar. Qualquer abraço começará por ser uma coreografia instável. Se calhar, a primeira forma do abraço é só um agarrar-se para não cair. Pouco a pouco, o abraço deixa de ser uma coisa que tu me dás ou que eu te dou e surge como um lugar novo, um lugar que não existia no mundo e que juntos encontramos.”
Acabar – “O momento de viragem acontece quando olhamos de outra forma para o inacabado, não apenas como indicador ou sintoma de carência, mas condição irrecusável do próprio ser. Ser é habitar, em criativa continuação, o seu próprio inacabado e o do mundo. O inacabado liga-se, é verdade, com o vocabulário da vulnerabilidade, mas também com a experiência de reversibilidade e de reciprocidade.”
Amigo – “A banalização da palavra amigo produz uma incapacidade de compreender (e de viver) amizades verdadeiras.”
Arte – “Há três dimensões fundamentais (e esquecidas) na arte, companhia que importa recordar: a gratuidade, a aceitação e a capacidade de partilhar o silêncio.”
Casa – “As casas são uma máquina de habitar e desempenham um papel chave na construção da nossa experiência humana. Mas todas as casas falam, pela presença ou pela ausência, de outra coisa que está para lá delas. Falam disso que um humano é, matéria ao mesmo tempo sucinta e imensa, de fazer espanto. Falam do conhecimento que só é verdadeiro se alojar em si a consciência do que ignora hoje e ignorará até ao fim. Falam da luta pela sobrevivência, com a sua rudeza, a sua dor e tumulto, mas também da excedência que experimentamos, porque se a vida não transbordar não é vida. Falam da intimidade, aquém e além da pele. Falam do silêncio e da palavra, que umas vezes se contradizem e outras não. Falam do cumprido e do adiado, do sono e da vigília, do fraterno e do oposto, da ferida e do júbilo, da vida e da morte.”
Desgraça (íntima) – “A nossa cabeça de pessoas crescidas é complicada. Descobrimos que há um prazer em listar achaques e traições, e se a minha chaga puder ser maior do que a tua tanto melhor, isso reforça o meu estatuto. A verdade é que, se não tomarmos atenção, a desgraça íntima torna-se um escanzelado pódio onde nos blindamos.”
Dinheiro – “O dinheiro não se fica a orientar apenas o ordenamento material da vida comum, mas contamina indelevelmente a dimensão imaterial da vida, as suas aspirações mais profundas. (…) Quer dizer, passou a ser um poderio, pois actua por si mesmo, detendo uma autonomia que só conhece como lei a sua. O dinheiro só tem respeito pelo dinheiro: nas relações que estabelece, tudo se compra e se vende, e é nessa espécie de delírio totalitário que ele prefere viver.”
Futuro – “Embora nos pese toda a indefinição ou os maus prognósticos, conservamos em relação ao futuro uma expectativa que nunca é completamente fechada. Quem sabe? – insistimos nós.”
Lentidão – “A lentidão ensaia uma fuga ao quadriculado; ousa transcender o meramente funcional e utilitário; escolhe mais vezes conviver com a vida silenciosa; anota os pequenos tráficos de sentido, as trocas de sabor e as suas fascinantes minúcias, o manuseamento diversificado e tão íntimo que pode ter luz.”
Passado – “O passado é, em grande medida, um tempo confortável, mesmo quando nos esmaga. Provoca-nos o alívio, (…) está num lugar certo, mesmo se nos espaventa de tão completamente errado.”
Presente – “Do presente, da pressão do presente, da sua irrefutável factualidade, desatamos facilmente a escapar.”
Reparar – “Reparar introuz-nos por si só numa lentidão, porque aquilo a que alude não é um observar qualquer: é um ver parado, um revisar porventura mais minucioso do que o mero relance; é uma visão segunda, uma nova oportunidade concedida não apenas ao objecto, nem sequer apenas ao olhar, mas à própria visibilidade. [Reparar] põe também em prática uma reparação, um processo de restauro, de resgate, de justiça. Como se a quantidade de meios-olhares e sobrevoos que dedicamos às coisas fosse lesivo dessa ética que permanece em expectativa no encontro com cada olhar. Por isso, de certa forma, só quando reparamos começamos a ver.”
Saber – “Reconhecer que ‘não se sabe’ pode trazer desconforto, mas traz também saúde interior e criatividade.”
Silêncio – “Aquilo a que chamamos silêncio só se torna real e efectivo através de um processo de despojamento interior, e de nenhuma outra maneira.”
Simplicidade – “Nada nos pede mais trabalho e arte do que a simplicidade.”
Vida – “A vida é completamente artesanal. Não é possível reproduzi-la em série, nem encontra-la feita noutro lado. A vida requer a paciência do oleiro, que, para fazer um vaso que o satisfaça, faz duzentos só a treinar o gosto, a habilidade, a testar a sua ideia.”
Vida – “Privamo-nos a nós próprios do tempo necessário para colher o sabor, o silêncio ou as cintilações que temperam a vida. No atropelo ofegante a que nos entregamos há um crescente alheamento de nós próprios. Não lhe damos o estatuto de patologia, mas esta desertificação da vida interior disfarçada de eficácia o que é senão isso? As nossas sociedades medem infelizmente o seu progresso esquecendo, quando não obliterando, domínios da vida humana que não são mensuráveis e que têm a ver com a interioridade, a criação, o dom, a alegria, o sentido.” (...)”



(João Reis Ribeiro in http://nestahora.blogspot.com)